terça-feira, março 31, 2009

segunda-feira, março 30, 2009

Limpeza feita na Primavera

Quadro de Magritte


Spring is like a perhaps hand

arranging a window,
into which people look

e.e.cummings


Primavera é como a mão
que termina onde começam as flores
(que vêm cuidadosamente
de lado nenhum) e manda
numa janela, antes fechada
e agora espirra sol e pólen
em que as pessoas mudam
os seus olhos e modos
de falar sobre as coisas.

sábado, março 28, 2009

Se a depressão é hereditária ou não, como sabê-lo?


A poeta e o filho Nicholas, em 1962

Se a depressão é hereditária ou não, como sabê-lo? O que é possível, sim, é lamentar o suicídio de Nicholas Hughes, filho dos poetas Ted Hughes e Sylvia Plath que, como recordamos, deprimida pelo rompimento com seu marido tomou a decisão de se suicidar, com gaz, na sua sua casa de Londres.
Nicholas Hughes era um conhecido ambientalista e investigador da fauna marinha no Alaska. Diz-se que durante muitos anos foi injuriado – sobretudo por organizações feministas- por ter alegadamente contribuido com as suas infidelidades para o suicídio de sua mulher.

Quando Sylvia Plath se suicidou tomou a precaução de tapar com toalhas molhadas as frinchas da porta da cozinha, para não afectar os seus pequenos filhos Nicholas e Frieda, de um e dois anos de idade, respectivamente, os quais deixou aconchegados e a dormir no quarto ao lado, com bolachas e um copo de leite para cada um. Apesar de toda a atenção mediática que o caso recebeu, o marido Ted Hughes manteve oculta a verdade aos seus filhos até à adolescência de ambos.
Seis anos depois de Fevereiro de 1963, como se se tratasse de um pesadelo recorrente, a companheira do escritor, Assia Wevill, também se matou da mesma forma que Sylvia: intoxicando-se com gaz, só que nessa ocasião também morreu a filha de Ted e Assia, Shura.

Por causa do dramatismo desta história familiar – que foi inclusivamente transportada para o cinema, com o filme Sylvia, interpretada pela actriz Gwyneth Paltrow -, muitos dos comentários giram mais em torno dos suicídios do que em volta do talento literário de Sylvia e de Ted, que morreu de cancro em 1998.

( Magda Díaz Morales, in Blog Apostillas Literarias)
Trad. de Poeta Salutor

quinta-feira, março 26, 2009

Vincent

Vincent, procuras salvar
a cadeira do seu destino do fogo
fazes rodopiar pincéis
nos campos de trigo e nos ângulos
da noite do teu coração
arde Arles na tua casa amarela
Tu logras sempre capturar a luz
espalhada em qualquer coisa
No vento, nas lâminas do sol
dos girassóis, nos teus cabelos fulvos
Na paleta as cores expulsam
a solidão das tuas planícies
como arrepiam nos teus olhos
os dias de verão e as noites estreladas.

quarta-feira, março 25, 2009

Haiku, no Porosidade Etérea

Nenúfares no lago:
uma mesa que Deus põe
a flutuar no vidro.

(a participação de Poeta Salutor)

A Inês Ramos escolheu apenas um haiku por participante para ser gravado em áudio pelo diseur Luís Gaspar.






terça-feira, março 24, 2009

Excerto do poema Tulips, Sylvia Plath

(...)
Perdi-me de mim e estou farta da minha bagagem-
Minha mala de couro aberta toda a noite como caixa de pílulas,
O marido e os filhos sorrindo no retrato de família;
Os seus sorrisos entram na minha pele, pequenos anzóis risonhos.

(Trad. J.T.Parreira)

segunda-feira, março 23, 2009

A poesia do desespero

Via A Ovelha Perdida, o destaque para o suicídio do filho de Sylvia Plath

Now I have lost myself I am sick of baggage-
My patent leather overnight case like a black pillbox,
My husband and child smiling out of the family photo;
Their smiles catch onto my skin, little smiling hooks.

(Sylvia Plath)

domingo, março 22, 2009

sábado, março 21, 2009

Dia Mundial da Poesia

Num dia assim


Num dia assim
Iria para a rua com os bolsos
Preparados para receber as mãos
Sem destinatários da minha simpatia

Num dia assim, iria para a rua
Para estar comigo nos outros, com os dedos
Resolvidos a fazer grandes coisas

Tocar o cabelo das crianças, se isso
Não fosse pedofilia, amar
O próximo como a mim mesmo

Entrar com o jornal do dia
Um bilhete de comboio
Numa Ópera, pisar o chão de uma livraria
Onde toda a gente se acha doutorada

Num dia assim
Talvez passe por entre as esplanadas
Que estendem a primavera
Na cidade.


21-3-2009

Dia Mundial da Poesia

Iremos publicando, ao longo do dia, poemas nossos, inéditos, construídos no momento e inspirados em imagens. Eis o segundo ( escreve no Ovelha Perdida, o poeta Brissos Lino):


O cachimbo de Neruda

O cachimbo de Neruda conhece
por dentro
a voz muda que percorre
o peito do poeta
quando sente a terra e as gentes

conhece o sabor
das palavras que sabem a mar
e sofrimento
conhece até os pensamentos alados
e calmos
de quem vê para lá
das águas.

(Brissos Lino , 21/3/09)

sexta-feira, março 20, 2009

Nécrologie




Van Gogh morreu no outro dia
um tiro
em Auvers estoirou a luz
ondulante das searas, um tiro
na cabeça de Van Gogh
as asas dos corvos
espantaram o azul.




quarta-feira, março 18, 2009

jack kerouac, haikais ocidentais

quatro haikais ocidentais


A chuva pesada
afunda-se no mar
Inútil, inútil.
*

Um imenso floco
de neve
Que desce sozinho.
*

Meio-dia,
as portas da garagem
Crescem sobre os cadeados
*

Aqueles pássaros empoleirados
sobre aquela paliçada
foram todos morrer.
*

(Trad. por Anderson Fonseca)


in Revista Confraria do Vento, nº 24
ver link no título

segunda-feira, março 16, 2009

Ezra Pound na jaula

Only shadows enter my tent
As men pass between me and the sunset
Ezra Pound, Canto 80


O poeta atrás da rede
num cubo de zinco e aço
aperta os seus passos

Conta os passos
e as tiras de metal
contra o céu azul
e a lâmpada ferindo os olhos
e a noite

O poeta tira os seus papéis
do canto da penumbra
na jaula improvisada
o poeta estende em Pisa
os seus Cantos

Entram somente sombras
na sua cela, à volta a erva
cresce golpeando o vento.

2/2009

domingo, março 15, 2009

Escribir, segundo Juan Manuel Bonet

Escribir-como se nada fuera importante-
el sencillo irse de las horas
sentado en la terraza de un café
de una provincia española.
Escribir, como si estuviera escrito
que el ruido de esas tazas sobre el mármol
tuviera que pasar el arroyo claro
de unos versos.
Escribir, como si nada fuera.

(Juan Manuel Bonet)

Escrever

Escreva - como se nada fosse importante -
o simples deslizar das horas
sentado no terraço de um café
provinciano.
Escreva, como se estivesse escrito
que o ruído das chávenas sobre o mármore
passa o regato claro
de uns versos.
Escreva, como se nada fora.

(Trad. J.T.Parreira)

&&&&&&&&&&&&&&&

POEMA INÉDITO ( SALA DE LEITURA)
Aqui: http://poetasalutor2.wordpress.com/

sexta-feira, março 13, 2009

Jacob


Um anjo forçou-lhe as coxas
no ribeiro, prendeu nas mãos
num dédalo perfeito
sem saída, o corpo de Jacob

Buscavam-se os dois
olhos nos corpos
à procura de uma porta para o céu
anjo e homem, sentidos em vigília

Buscavam-se os dois
certamente em círculo
espiaram a aurora
na água que corria.

quinta-feira, março 12, 2009

A noite fez das suas

“A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos.”
(António Ramos Rosa, Poema dum funcionário cansado)

A noite fez das suas
baralhou de novo os dados
da situação
comprometeu a clareza lógica
do excesso solar
os sonhos arredondaram-me as mãos
e o rosto
a noite fez-me ver para lá
do espelho
das vaidades.

11/3/09

(Brissos Lino)

terça-feira, março 10, 2009

Waltz



“Não há muito a dizer de uma valsa”
Maria Pragana


Não há muito a dizer sobre uma valsa
e tanta coisa se liga
a um corpo dançando com o outro

Os dançarinos passeiam por campos vazios
na sua cabeça, mãos nas mãos
atirando para longe o frio

No vento
o vestido é uma chama
queimando.

8/3/2009

segunda-feira, março 09, 2009

Poeta Salutor 2

Iniciei em Word Press nova aventura na publicação de poemas inéditos, datados a partir de 2009. Também inserirei textos de crítica literária e traduções.

Ver aqui http://poetasalutor2.wordpress.com/

domingo, março 08, 2009

Os Limites

hay un espejo que me ha visto por última vez
Jorge Luis Borges

Há um espelho que não sabe
onde estará teu rosto
há a lâmpada com que feriste
pela última vez teus olhos
há a música que não tardará
a encontrar outros ouvidos
há uma última noite em que os sonhos
ficarão nas galerias, solitários
Pela última vez
há um pássaro que parte
o silêncio que há no ar
Há um dia que se fecha na morte.

1985

quinta-feira, março 05, 2009

Ambigüedad de la catástrofe: Ángel González

Lo había perdido todo:
amor, familia, bienes, esperanza.
Y se decía casi sin tristeza:
?no es hermoso, por fin, vivir sin miedo?

(Ángel González, "Nada Grave", livro póstumo, 2008)


Ele havia perdido tudo:
amor, família, haveres, esperança.
E ele disse quase sem tristeza:
não é bonito, por fim, viver sem medo?

(Trad. J.T.Parreira)

quarta-feira, março 04, 2009

O Grupo Poético de Aveiro e José Régio

Parte do GPA, sob os olhares da máquina fotográfica e do Régio. Alguns intérpretes e poetas, Rosa Maria Oliveira, Aida Viegas, Orlando Figueiredo e o editor do Poeta Salutor.

terça-feira, março 03, 2009

Mostrar o coração

I showed my heart to the doctor: he said I just have to quit.
Leonard Cohen


Abri o meu coração para o médico, gráficos
atropelando as batidas do sangue- o médico disse
que embora os exames
não mostrassem indícios
havia solidão, ele mostrou o perigo
de se ter um amor maior do que a idade
a que podemos chegar Por fim
mostrou-me como trabalha
ainda o sopro divino.

segunda-feira, março 02, 2009

The Desolate Field /Vasto e Cinzento, o céu

Vast and grey, the sky
is a simulacrum
to all but him whose days
are vast and grey and --
In the tall, dried grasses
a goat stirs with nozzle searching the ground.
My head is in the air
but who am I . . . ?
-- and my heart stops amazed
at the thought of love
vast and grey
yearning silently over me.
(William Carlos Williams)


Vasto e cinzento, o céu
é uma imagem
para todos menos para ele cujos dias
são vastos e cinzentos e –
Nas ervas altas, ressequidas
uma cabra agita-se
com o focinho procurando o chão.
Minha cabeça está no ar
mas quem sou eu...?
-- e meu coração maravilhado pára
num pensamento de amor
vasto e cinzento
saudoso em silêncio sobre mim.

(Tradução de J.T.Parreira)